sexta-feira, 2 de março de 2012

A DITADURA DA AUTO-AJUDA GOSPEL


Evidentemente a AUTO-AJUDA é uma tendência que tem impregnado todo o meio cristão, em especial no Brasil. Os sermões, orações e músicas só alcançam a aprovação do exigente público Gospel nacional à medida que suprem suas mais latentes carências.

Na música a chaga é ainda maior. Por serem indiscutivelmente “comerciais” (uma vez que são feitos também para serem comercializados), os CDs e DVDs do estilo Gospel Brasileiro tendem a possuir invariavelmente apenas o mesmo tema: “a AUTO-AJUDA GOSPEL”.


Auto-ajuda ou “Ajuda do Alto”?


“Deus vai fazer por mim”; “Deus não se esqueceu de mim”; “Faz em mim”... São frases semelhantes às que encontramos em qualquer música entre as que fazem sucesso hoje em dia.


Conversando recentemente com o famoso dono de uma gravadora, enquanto ele ouvia e analisava minhas composições, fui surpreendido com um sensato conselho: “Você precisa compor mais músicas em primeira pessoa. É isso que as pessoas querem ouvir e cantar!” A princípio, acatei a sugestão, embora não tenha me esforçado para colocá-la em prática.


Outro dia, fui procurado por um irmão, líder de um ministério de música que precisava de algumas canções para compor o repertório de seu primeiro CD. Quando perguntei o que ele procurava... a única coisa que ele me respondeu foi: “Precisamos de músicas em primeira pessoa”. Depois deste episódio, não pude mais conter minha revolta diante da ditadura da auto-ajuda cristã revelada, sobretudo, na música.


Que qualidade de artistas temos formado em nossa nação? Será que ninguém ensinou nossos compositores que a Arte, independente do tempo verbal, é sempre em “primeira pessoa” – trata-se de uma construção completamente subjetiva? Nenhum tipo de arte é isento, imparcial, puramente objetivo. A música, seja em primeira, segunda, terceira ou “décima pessoa” sempre vai falar do que está no coração do artista.


A variedade de dons e ministérios foi suprimida pela ditadura das letras pré-fabricadas e que massageiam o ego dos ouvintes. Poesias que tratam Deus como um garçom, alguém que tem a obrigação de nos servir em todas as nossas necessidades.


Onde estão aqueles que cantam o que exorta, o que admoesta, o que corrige, o que lamenta, o que sofre ou qualquer outra coisa que não seja simplesmente auto-ajuda? Quem sabe o Senhor deseje também levantar pessoas que cantam o cotidiano, o amor, as decepções etc...?


Certamente, meu aparente radicalismo é típico do tom profético desta reflexão. Entretanto, preciso ressaltar que nem todos são dos que cedem à tendência do discurso positivista. Há sim, aqueles que cantam o que Deus quer que cantem. Não podemos ignorar também que alguns, certamente, foram chamados para cantar a auto-ajuda cristã. Mas que fique bem claro: TALVEZ ALGUNS, E NÃO TODOS!!!


Pr. Marcus Siqueira

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